O “Ponto de Deus”

por Autor Convidado
Mão de adulto (simboliza Deus) com indicador esticado toca no dedo esticado da mão de uma criança (simboliza o ser humano)

O biólogo Richard Dawkins materializou a noção da presença de Deus no cérebro humano através da descrição do “Ponto Deus” – “The God Spot”. É descrito como uma área do cérebro que, à semelhança das áreas cerebrais que estão associadas à linguagem, à projeção, à associação, entre outras, criam sentimentos e comportamentos específicos, que neste caso são alucinações, experiências e noções de presença de Deus perante um estimulo – meditação e oração.1

Mas afinal, como, no processo evolutivo, encaixamos a criação da identidade de Deus? ”Por que os humanos evoluiriam de tal maneira que viessem a acreditar no que não existe?”.2

Aceitar a existência de um Ser Superior e integrá-Lo na nossa vida transforma a forma como encaramos cada dificuldade, alegria e insegurança. O médico psiquiatra do ISPA, Dr. José Teixeira, parafraseia Van Deurzen-Smith, explicando que “a existência enquanto estar-no-mundo envolve a unidade entre o indivíduo e o meio em quatro dimensões, que são as dimensões da existência: física, social, psicológica e espiritual.3

“Aceitar a existência de um Ser Superior transforma a forma como encaramos cada dificuldade…”

Não podemos ignorar que os investigadores da Universidade de Missouri evidenciam que o nosso cérebro comporta áreas responsáveis pela espiritualidade. Concluem que a espiritualidade é um fenómeno complexo e várias áreas do cérebro são envolvidas nesse processo de experiência espiritual. Ou seja, a vertente espiritual na vida do ser humano existe. Pode ser vivida de forma positiva ou negativa, mas existe.

Espiritualidade e Saúde

Dr. Johnstone mostra que pessoas com vivências espirituais negativas (sentimentos de abandono, punição, menor frequência de práticas religiosas, menor nível de perdão, entre outros) têm saúde física mais debilitada, pior saúde mental e mais episódios de dor, enquanto experiências espirituais positivas de aumento de confiança em Deus e maior capacidade de perdão, estão associados a melhor saúde mental e modo de encarar a dor.  A confiança parece ser um elo de separação entre estes dois estados. O objecto da confiança é determinante para que atue da forma certa para uma saúde melhor.4 Vários estudos indicam que “há evidência disponível para se afirmar que o envolvimento religioso normalmente está associado a melhor saúde mental.”5 Em relação à pandemia da depressão, dezenas de estudos de intervenção descobriram que a integração de crenças espirituais e religiosas dos clientes na terapia é pelo menos tão eficaz na redução da depressão como os tratamentos seculares. A base da espiritualidade e de uma relação com Deus não está na gestão da confiança em nós próprios, não está centrada no eu, muito menos está relacionada com a auto-ajuda. Está sim intimamente ligada à deposição total do eu nas mãos de um Ser Superior.6

“A espiritualidade faz parte do nosso cérebro e a confiança depositada em Deus melhora a saúde.”

No que acreditar?

Existem evidencias tanto conceptuais como materiais da existência de Deus. Compreendemos que a espiritualidade faz parte integrante do nosso cérebro e o desenvolvimento da confiança gerada através do relacionamento com Ele traz melhorias do estado de saúde geral trazendo paz, esperança e segurança. Entre duas opções – o acaso e o planeado – será que faz sentido escolher uma vida sem propósito? Dependendo apenas de mim próprio, que deixo de existir assim que morro? Ou não será mais vantajoso viver uma vida de paz e tranquilidade, cuja confiança está totalmente depositada num Ser Inteligente Superior, cujas necessidades existenciais são resolvidas e existe um sentido?

“É do extraordinário que as pessoas necessitam para viver uma vida para lá da dor e do sofrimento.”

Aqueles que apoiam fortemente a teoria de que somos apenas matéria procuram emergir das experiências humanas que reforçam a teoria da existência de Deus. Mas d’Souza está certo: Deus é o futuro. Ainda que a AASA (Ateus e Agnósticos – Sociedade Ateísta) utilize a citação do ateísta Carl Sagan como meio de ridicularizar a crença em Deus “Alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias”, podemos dizer que é do extraordinário que as pessoas tanto necessitam para viver uma vida para lá do sectarismo, da dor e do sofrimento.


  1. Dawkins, R. (2006). The God Delusion. London : Bantam Press

  2. D’Souza, D. (2008). What’s so great about Christianity. Washington, DC: Regnery Pub

  3. Teixeira, J. (2006). Introdução à psicoterapia existencial. Análise Psicológica, 3 (XXIV): 289-309

  4. Johnstone B. et. al (2015) Relationships Between Negative Spiritual Beliefs and Health Outcomes for Individuals With Heterogeneous Medical Conditions Journal of Spirituality in Mental Health Vol. 17, Iss. 2

  5. Moreira-Almeida, A; Neto, F; Koenig, H. (2006) Religiousness and mental health: a review. Rev. Bras. Psiquiatr. vol.28, n.3, pp.242-250

  6. Pearce et al (2015) Religiously Integrated Cognitive Behavioral Therapy: A New Method of Treatment for Major Depression in Patients With Chronic Medical Illness. Psychotherapy (Chicago, Ill.), 52(1), 56–66

Talvez Também Gostes