Mamã leafstyle #4 – Caminho certo… o contrário àquele para onde vai a maioria

por Débora
Eco do Santiago a chuchar no dedo

Finalmente chegou o momento esperado, a ecografia do 1º trimestre, em que se vê o bebé já com formas de bebé, e se avalia o seu desenvolvimento.

A melhor escolha

Fomos aconselhados a fazer as ecografias “importantes” com o dr. Amadeu Ferreira, um especialista com muitos anos de experiência, muito rigoroso, minucioso e atento a todos os pormenores. Foi de longe a melhor decisão que podíamos ter tomado. Toda a atenção aos detalhes, o tempo despendido em cada pormenor, a explicação de tudo o que ia vendo… tudo isto ajudou a diminuir a ansiedade que se foi acumulando, e perceber de forma tão tranquila e rigorosa que o bebé se estava a desenvolver bem.

Ao longo dos 40 minutos de consulta ouvimos várias vezes o dr. dizer “que imagem bonita”, “que espectáculo”! Claro que já nos começámos a sentir pais babados! É realmente um espectáculo ver como um ser tão pequenino (6 cm), com apenas 12 semanas de vida é já tão “pormenorizado”, e tão perfeito. É incrível a sensação de gerar uma vida, de acompanhar o seu desenvolvimento e de ter o privilégio de participar um pouco do plano criador de Deus. 

É incrível… ter o privilégio de participar um pouco do plano criador de Deus.”

Embora a curiosidade de saber se o nosso bebé seria menino ou menina já fosse muito grande, estávamos convencidos de que seria muito cedo para ter a certeza e que íamos continuar curiosos durante mais umas semanas. Mas! Com alguma admiração à mistura o dr. Amadeu perguntou-nos “Conhecem algum ser com três pernas?”  WOW!! Já dava para ver?! Sim, ainda era cedo, mas ficámos a saber que podíamos ter 90% de certeza de ser um menino!

No final da ecografia o dr. Amadeu deu-nos os parabéns por estar tudo bem e por eu não ter aumentado de peso. Na verdade ainda nem tinha recuperado o peso perdido no início da gravidez.

As melhores férias

Acalmada a ansiedade, seguimos para as nossas últimas férias de Verão a dois (mas com a sensação de três). Passei as férias a mostrar, orgulhosamente, a minha barriga de grávida na praia e na piscina. Pensando bem, foi um bocadinho ridículo… só quem me conhecesse é que conseguiria perceber que havia uma barriguinha a aparecer. De qualquer maneira, na minha cabeça qualquer pessoa que passasse por mim ia pensar “olha, uma grávida!”.

Eu sei…ridículo.

Barriga na piscina

A barriga de grávida ainda mal se fazia notar, mas as sacro-ilíacas (articulações da bacia) começaram a dificultar estar deitada de barriga para cima e levantar. Na gravidez é normal haver um relaxamento dos ligamentos que dão suporte e estabilidade às articulações e parece que a minhas sacro-ilíacas foram as escolhidas a partir das 13 semanas. Pelo menos no levantar da toalha de praia ou da cadeira eu já transparecia a minha gravidez.

“Estar grávida é simplesmente maravilhoso!”

Nesta fase, apesar da dor articular em alguns movimentos específicos, eu senti-me radiante. Estava feliz, a minha pele e cabelo estavam espectaculares, tinha cor (normalmente demoro a ganhar cor e desaparece num instante, mas desta vez o bronze chegou mais rápido e aguentou mais tempo), já sentia prazer a comer as minhas grandes saladas com tudo e mais alguma coisa (e super desinfectadas) e conseguia, progressivamente, sentir a minha resistência física a aumentar.

Estar grávida é simplesmente maravilhoso! (Principalmente em período de férias).

Novo hospital, nova médica

Entretanto decidimos mudar de hospital e de obstetra. A nossa nova obstetra, a dra. Filomena Nogueira foi sempre muito atenciosa (diria até carinhosa na forma de falar). E não teve nenhuma expressão de desagrado quando expliquei que sou vegan. A única coisa que perguntou foi se eu me alimentava bem. Depois de confirmar os resultados de todos os exames que tinha feito até à data disse apenas: “Está tudo óptimo”. Pronto, não pulou de alegria , mas aceitou a minha opção e apoiou-se no que é importante, os resultados dos exames.

Por volta das 19 semanas tive, pela primeira vez, a sensação de ter “qualquer coisa” a mexer. Muito de vez em quando parecia que tinha uma borboleta a bater asas na barriga. E que sensação tão boa! (Agora já são pontapés bem fortes, mas a sensação continua a ser maravilhosa.)

O tempo foi passando, a barriga começando a crescer (passou de “quase nada” para “Olhem! Estou aqui!” num instante) e chegou outra vez a hora de fazer mais uma visita ao dr. Amadeu Ferreira para ver como o nosso menino se tinha desenvolvido até às 22 semanas, com a ecografia morfológica. Mais uma vez, a calma e o rigor do dr. Amadeu dissipam qualquer nervosismo. Manteve as expressões “que imagem bonita”, “que espectáculo”, e acrescentou outras como, “olhem só estas mãozinhas”, “aqui está um pé”. São só duas mãos e dois pés, mas as expressões foram repetidas várias vezes. É visível a paixão e dedicação deste especialista pelo que faz.

Barriga de grávida

Uma conversa improvável

A ecografia foi longa e detalhada, e no final o dr. disse que o bebé estava óptimo. Respondi que todo o esforço que faço para ser saudável e ir contra o que é considerado “normal”, apesar das (muitas) críticas, haveria de compensar de alguma forma. Não imaginava que este seria o pontapé de saída para uma conversa, que nunca imaginei ter com um médico. Elogiou o facto de ir contra o que a “sociedade” diz, (depois de ter dito que sou vegan, mesmo durante a gravidez) e o facto de não ter excesso de peso. 

“O dr. elogiou o facto de ir contra o que a “sociedade” diz…”

O dr. Amadeu é “conhecido” por ser um pouco rígido com as mamãs que aumentam muito de peso, que não têm cuidado com a alimentação e cometem excessos, principalmente com os doces. Segundo o dr., o ganho de peso excessivo durante a gravidez é um crime para com a saúde do bebé, e deveriam ser considerados maus tratos quando a grávida tem uma alimentação sem controlo e sem excluir o que não é saudável. “As mulheres não fazem ideia dos problemas de saúde a que “condenam” os filhos por não terem atenção à alimentação que têm enquanto o bebé se desenvolve”. 

“Deveriam ser considerados maus tratos quando a grávida tem uma alimentação sem controlo…”

Realmente, não é algo que deva ser levado de ânimo leve. Aquilo que eu faço, durante a gravidez, vai com certeza influenciar o desenvolvimento do bebé, antes e depois de nascer.

Como poderia deixar de fazer o que sei ser melhor para o meu bebé, só porque é “normal” fazer diferente? Como poderia ficar de consciência tranquila se cedesse a cada capricho alimentar (não saudável), “só” porque estou grávida?! Como pode um médico (a minha primeira obstetra) aconselhar a comer os bolos que eu quiser, para me ajudar a descomprimir da ansiedade?! Como pode uma enfermeira de obstetrícia dizer que posso (e devo) beber álcool durante a gravidez, desde que seja vinho ou cerveja?! Ou para não me regrar quando tiver festas e comer e beber de tudo o que eu quiser, porque estou num estado de graça e não de opressão?! Como pode a “sociedade” dizer que os desejos alimentares da grávida têm de ser satisfeitos (por piores que sejam), porque não pode ficar na vontade?

Serei eu a doida no meio disto tudo? Demasiado fanática? Não sou!

“Estou no caminho certo… o contrário àquele para onde, infelizmente, ainda vai a maioria.”

E se antes pudesse ponderar o problema estar do meu lado, depois de ouvir as palavras do dr. Amadeu tenho a certeza que não. Ouvir um médico respeitado, com largos anos de experiência e dedicação nesta área, dizer que a alimentação e tudo o que se faz durante a gravidez é fundamental, que andamos todos a pagar os problemas de saúde dos outros (que são consequências dos erros dos pais) e que um dia a “sociedade” vai abrir os olhos e regulamentar devidamente a fase da gravidez, faz-me respirar de alívio. Porque é uma referência, porque há-de ter influenciado aqueles com quem se tem cruzado profissionalmente (profissionais de saúde e pacientes), porque terá, com certeza, um papel importante para a mudança que é necessária acontecer na nossa “sociedade”, e porque me dá ânimo para continuar a “remar contra a maré”.

Posso não fazer tudo como devia, posso ter grandes falhas no meu estilo de vida, mas pelo menos tenho a certeza de que estou no caminho certo… o contrário àquele para onde, infelizmente, ainda vai a maioria.

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