Nem sempre é fácil tomar a decisão de mudar o estilo de vida, principalmente no que toca à alimentação.
Embora o interesse pelo “saudável” tenha vindo a crescer nos últimos anos, ainda existe resistência em aceitar que alguém retire por completo alguns alimentos do seu regime alimentar (por mais conhecidos que sejam os seus malefícios). E esta resistência torna-se visível naquelas frases ou expressões típicas de extrema “preocupação” vindas de amigos e conhecidos:
“Mas não comes nada? O que é que tu comes? Onde vais buscar a proteína? Onde vais buscar as vitaminas e os minerais? Sabias que o açúcar também faz falta? Assim vais ficar doente. Tens algum prazer a comer? Só comes erva? Não podes ser tão radical. Só de vez em quando não faz mal. Não sejas tão intransigente. E quando tiveres filhos, vais comer normal outra vez, não vais?”
Mas tudo bem, podem não ter muito conhecimento sobre os benefícios/malefícios de determinados alimentos, e terei todo o gosto em explicar a quem quiser realmente saber. No entanto, o que mais me admira e preocupa é que este “não ter muito conhecimento sobre” está demasiado vincado no meio dos profissionais de saúde.
“Tornei-me ovo-lacto-vegetariana, mas com muito pouco de vegetariana.”
Claro que também é importante perceber que há muitas pessoas que fazem mudanças significativas do regime alimentar, sem primeiro procurar as informações necessárias e credíveis para o fazer. E sim, acabam doentes e a mostrar que comer “normal” é que é bom.
Confesso que comecei um pouco assim, sem a informação ou o conhecimento necessário para fazer mudanças do meu regime alimentar. Mas pensando bem, também não foram assim tantas as mudanças no início…
Como tudo começou
Tornei-me vegetariana aos 14 anos, nessa altura apenas por amor aos animais. Achei que se me podia alimentar sem provocar a morte de animais, essa seria a melhor opção para mim. Tornei-me ovo-lacto-vegetariana, mas com muito pouco de vegetariana. Apenas substituí a carne e o peixe por tofu, soja e seitan sem aumentar em nada a ingestão de vegetais. Se pensarmos que o conhecimento é progressivo, mal ou bem, este foi o meu primeiro passo para uma vida melhor. Eu era a única vegetariana em casa e no meu círculo de amigos. Logo aí começaram as críticas e as piadas porque “não comia quase nada”. Irónico este pensamento, quando a única coisa que eu não comia era carne/peixe, e comia de tudo o resto.
Dez anos depois – o segundo passo
No final de 2011 (10 anos depois do meu primeiro passo) eu e o Marcos ouvimos uma palestra do Dr. Alberto Pereira da Silva que falava em particular sobre os laticínios e dos efeitos negativos que têm para a saúde. Nessa altura o Marcos já se tinha tornado ovo-lacto-vegetariano (um carnívoro orgulhosamente assumido pode-se tornar vegetariano!!! Um dia ele conta como passou de um extremo para o outro).
“Foi um GRANDE desafio à nossa força de vontade deixar um grupo de alimentos de que gostávamos tanto.”
Começámos a investigar mais sobre os malefícios/benefícios dos alimentos para a saúde e a procurar fontes científicas e credíveis. Decidimos a partir daquele dia deixar de beber leite e de comer manteiga e queijo, “avulso”. Não bebíamos copos de leite, nem púnhamos manteiga ou queijo no pão. E deixem-me dizer que o Marcos era um vivido adorador de leite e de manteiga enquanto eu era uma vívida adoradora de queijo. Foi um GRANDE desafio à nossa força de vontade deixar um grupo de alimentos de que gostávamos tanto.
Com o avançar da procura por informação fomos deixando de consumir qualquer alimento que tivesse laticínios na sua constituição e progressivamente deixámos também os ovos e tudo o que tivesse ovos na sua constituição.
Conhecemos o regime alimentar que o Dr. Joel Fuhrman propõe, baseado e justificado em diversos estudos científicos, e daí até deixarmos também o açúcar não passou muito tempo. Agora a preocupação não era apenas pelo bem estar dos animais, mas também, e principalmente, pela nossa saúde.
2012 – Ano de grandes mudanças
Em Março de 2012 eramos vegetarianos puros (sem o açúcar-ovo-lacto), informados e interessados no que a alimentação e o estilo de vida podem fazer pela nossa saúde. Agora sim, chegámos ao ponto em que nos podiam criticar por não comermos quase nada daquilo que é comumente aceite como sendo normal. Deixámos o leite, os ovos, o açúcar, comidas altamente processadas e passámos a comer fruta, cereais integrais, frutos secos, sementes e muitos, muitos vegetais.
“Passámos a comer fruta, cereais integrais, frutos secos, sementes e muitos, muitos vegetais.”
Soja granulada, em nacos, em bifes ou com qualquer outra forma nunca mais fez parte da nossa alimentação (alimento muito processado!) e mesmo o seitan passou a ser consumido apenas fora de casa quando íamos comer a casa de alguém.
Já tínhamos algum gosto pelo exercício e foi nesta altura também que nos aplicámos mais a fundo em praticar exercício diário. Fizemos o treino completo do Insanity e nunca nos sentimos com tanta energia como nesta altura, em meio a tantas mudanças na alimentação. Também começámos a ter mais atenção às horas de dormir e a outros componentes de um estilo de vida saudável.
2012 foi também o ano em que eu e o Marcos nos casámos. O casamento foi ovo-lacto-vegetariano e sem bebidas alcoólicas. Não foi completamente vegetariano para conseguirmos ter pelo menos meia dúzia de convidados.
1+1=3
Foi quatro anos depois de um estilo de vida a dois mais saudável e com muito mais energia que, à terceira semana do treino do Insanity, descobrimos que íamos passar a ser três.
E não… não vou comer “normal” outra vez.