O Problema Não Está Na Proteína…

por Autor Convidado
Mesa de almoço com azeitonas, molhos, feijão e vegetais, fontes de proteína

É sempre motivo de preocupação saber se a minha alimentação me está a fornecer o correcto aporte de todos os nutrientes necessários à vida. Mais interessante ainda é perceber de que forma os hábitos alimentares se relacionam com a doença.

Bastantes estudos científicos têm mostrado que, por exemplo, regimes alimentares caracterizados por baixo consumo de carne estão associados a um menor risco de doenças tais como síndrome metabólica, diabetes, doenças cardiovasculares e certos tipos de cancro.12345678910

Mas… e a proteína?

Crescemos a ouvir falar neste nutriente e da sua importância. Mais que isso, durante vários anos associámos carne=proteína e vice-versa. Entretanto, mesmo sabendo hoje que existem fontes alternativas (alimentos de origem vegetal) para a obtenção deste célebre nutriente, este continua a ser um ponto sensível e que carece de esclarecimento.

Um dos maiores estudos científicos na área da caracterização de padrões alimentares comparou e avaliou a ingestão de diferentes nutrientes nos seguintes regimes alimentares: Não vegetariano (n≅33000); Semi-vegetariano (n≅4000); Pesco-Vegetariano (n≅6500); Ovo-lacto-vegetariano (n≅22000); Vegetariano (n≅5500).

Consumo Médio de Proteína em Função do Regime Alimentar

Gráfico do Consumo Médio de Proteína em Função do Regime Alimentar

Em relação à proteína, é recomendada a ingestão média de cerca de 50g/dia (ou 0,8g proteína/Kg de peso).11 Neste estudo percebeu-se que os não-vegetarianos obtêm muito mais quantidade de proteínas do que o necessário. E em relação aos vegetarianos? Concluiu-se o mesmo! Os vegetarianos consomem em média mais 70% da quantidade de proteína necessária diariamente.

“Menos de 3% da população ingere a quantidade recomendada de fibra.”

Na realidade é um pouco estranha a forma exagerada como se enfatiza esta questão. Nos EUA, por exemplo, apenas menos de 3% da população não atinge as necessidades diárias de proteína (muito provavelmente relacionado com dietas muito hipocalóricas, ou seja, apenas porque não se alimentam na quantidade suficiente).12
Se 3% não atinge as necessidades proteicas, então 97%… atinge. Não sendo a proteína um problema, poderá haver algum outro nutriente que esteja em falta na alimentação? Os estudos dizem que sim. Sabe-se que, ao contrário do que acontece com o consumo de proteína, menos de 3% da população ingere a quantidade recomendada de fibra, ou seja, 97% das pessoas não ingere a quantidade de fibra necessária. Portanto a questão central não deveria ser “Onde vamos buscar proteína?” mas sim “Onde está a fibra?”.

“A questão central não deveria ser “Onde vamos buscar proteína?” mas sim “Onde está a fibra?””

A fibra é um nutriente fundamental para a saúde humana cujos benefícios são cada vez mais evidentes. Estudos epidemiológicos associam um elevado consumo de fibra com um menor risco de diabetes, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares, obesidade e vários tipos de cancro. Além disso diminui factores de risco tais como colesterol elevado, pressão arterial e glicemia elevada.  Entre outras fontes, este nutriente encontra-se maioritariamente nos vegetais, frutas, cereais integrais e leguminosas. Uma alimentação rica nestes alimentos pode ser a chave para uma saúde de excelência.13


  1. Willett W. Lessons from dietary studies in Adventists and questions for the future. Am J Clin Nutr. 2003; 78:539S–543S.

  2. Rizzo NS, Sabate J, Jaceldo-Siegl K, Fraser GE. Vegetarian dietary patterns are associated with a lower risk of metabolic syndrome: the adventist health study 2. Diabetes Care. 2011; 34:1225–1227.

  3. Vang A, Singh PN, Lee JW, Haddad EH, Brinegar CH. Meats, processed meats, obesity, weight gain and occurrence of diabetes among adults: findings from Adventist Health Studies. Ann Nutr Metab. 2008; 52:96–104.

  4. Tonstad S, Butler T, Yan R, Fraser GE. Type of vegetarian diet, body weight, and prevalence of type 2 diabetes. Diabetes Care. 2009; 32:791–796.

  5. Fraser GE. Diet as primordial prevention in Seventh-Day Adventists. Prev Med. 1999; 29:S18–S23.

  6. Toohey ML, Harris MA, DeWitt W, Foster G, Schmidt WD, Melby CL. Cardiovascular disease risk factors are lower in African-American vegans compared to lacto-ovo-vegetarians. J Am Coll Nutr. 1998; 17:425–434.

  7. Fraser GE, Shavlik DJ. Risk factors for all-cause and coronary heart disease mortality in the oldestold. The Adventist Health Study. Arch Intern Med. 1997; 157:2249–2258.

  8. Kiani F, Knutsen S, Singh P, Ursin G, Fraser G. Dietary risk factors for ovarian cancer: the Adventist Health Study (United States). Cancer Causes Control. 2006; 17:137–146.

  9. Singh PN, Fraser GE. Dietary risk factors for colon cancer in a low-risk population. Am J Epidemiol. 1998; 148:761–774.

  10. Lin,Y. et al. Dietary animal and plant protein intakes and their associations with obesity and cardio-metabolic indicators in European adolescents: the HELENA cross-sectional study. 2015, Nutrition Journal.

  11. Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrate. Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino Acids (2002/2005).

  12. V L Fulgoni. Current protein intake in America: Analysis of the National Health and Nutrition Examination Survey, 2003–2004. Am J Clin Nutr 2008 87(5):1554S – 1557S.

  13. A Dilzer, J M Jones, M E Latulippe. The Family of Dietary Fibers: Dietary Variety for Maximum Health Benefit. Nutrition Today 2013 48(3):108 – 118.

Talvez Também Gostes

Deixar um Comentário